sábado, julho 30, 2005

de volta.



[450 kilómetros de regresso à cidade insuflável, esvaziada de ar novo].

sexta-feira, julho 29, 2005

...uns diazinhos de férias e as saudades de certas coisas ainda antes de partir começam a apertar (tu sabes)

...o descanso e o "mudar de ares"


volto logo... boas férias a todos!

quarta-feira, julho 27, 2005


... happy!

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(ter o mundo na mão, a paz na alma e a coragem no andar. sorrio-te. penso que a teu lado conseguiria tudo, tudo.)

"como te defines tu?"

tenho o choro acumulado das vezes em que fui forte (?) e não o larguei, tenho o sal das memórias balneares a salgar a pele, o sorriso aquece mas também esconde, as desilusões formam-me, sinto-me fraca quando não consigo ajudar quem quero, ainda mais fraca quando não me sinto forte, mas nunca fraca quando arrisco e perco, porque jogo a sorte com o coração nas mãos mas os pés na terra, como um pássaro sem asas que voa no pensamento e nos sonhos, a chuva consegue alegrar-me e o frio também, sim eu sei que pode parecer estranho, mas a verdade é que tenho uma lógica muito própria, pessoal, talvez incompreensível a quem de fora assiste e pensa que posso não ser normal, mas afinal o que é normal?, admiro quem quebra convenções e sai vitorioso, desprezo a tacanhez de espírito, a traição e a deslealdade, tento ao máximo ser verdadeira mas sou cada vez mais criteriosa a distribuir a minha confiança - talvez isto signifique que aprendo com os erros? -, falando em erros não me arrependo se errar quando me soube tão bem, será irresponsabilidade?, gosto de questões e de as pôr, gosto de tardes à conversa, odeio desiludir-me com alguém em quem apostei, mas acima de tudo quero sempre não me sentir arrependida do que não faço... porque um dia não há como voltar atrás... tenho medo de não conseguir ser sempre eu, ser quem quero ser.

enfim...
(suspiro)
não gosto de definições e amanhã escreveria algo diferente.

one day.




this is kind of about you

this is kind of about me

we just kind of lost our way

we were looking to be free

but one day, we'll float

take life as it comes

we'll float

take life as it comes.


oh, one day.



[polly jean harvey, we float]
[fotografia de ryan mcginley].

domingo, julho 24, 2005

antes do anoitecer

vemos a vida através do nosso próprio buraco de fechadura

após algumas desilusões tornamo-nos mais fechados, mais receosos, sós. perdemos o gosto pela conversa fácil e saltitante, sempre com a mente no próximo passo. a doçura esvai-se no planeamento. será que a perda da ingenuidade equivale a crescimento, à tão badalada maturidade? ou será que perder o olhar terno é uma triste consequência de momentos mal passados? deixa-me cantar-te uma valsa... e se o sempre for temporário?

magia de algo permancer anos depois. de nada fazer sentido sem o outro. a beleza de ver um filme ternurento, onde vidas mudam numa tarde. não haverá mesmo coincidências? a graça conjugada com o charme fácil. o par. um mais um são um dois que no fundo são apenas metades de um. eu... tenho esperança. que hoje em dia se tornou quase uma palavra tabu. é de bom tom afivelar no rosto uma expressão de resistência calejada. como se nada disto importasse. é preciso força para sair de situações que são virtualmente becos sem saída. mas mais força e coragem são necessárias para apostarmos, num casual lançar de sortes, num "nós".

hoje.




hoje eras tu - the shorter story - a entrar no carro e a sair pela coluna de som, a entrar em mim e a sair pelos olhos verdes-verdes.
hoje foi a revelação de um rolo vazio de imagens, um rolo que se assemelhava assustadoramente a mim - captadora de imagens que nunca se revelarão numa verdade viva.
hoje foi a senhora má a encostar-me ao silêncio repreensivo, a esquecer-se que eu sou pequenina e frágil e triste e cansada e alimentada a nostalgias e a escassear de abraços e de palavras quentinhas.




sábado, julho 23, 2005



passo tardes a ler enrolada numa manta. também gostava o fazer à sombra de uma árvore. talvez assim encontrasse mais respostas, as respostas, nas linhas cuidadosamente tipografadas. só que a vida não são palavras paralelas. cruzam-se momentos em rabiscos furiosos, que quase rasgam o papel. borrões de tinta decoram as margens. se calhar, se lesse debaixo da copa abrigada, talvez me caísse uma maçã em cima, também...
eureka?
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do descartável e outras deambulações



não quero pessoas que se colam e descolam e deixam um sabor lavável na pele. não gosto de despedidas. quero amores e amizades perenes, que me tornem inteira. quem importa devia permanecer sempre. dizer adeus a metade de nós é demais. desfaço-me perante a hipótese. raras são as pessoas que fazem parte de mim, mais frequente é o sabor amargo de uma desilusão. hoje em dia as pessoas tornaram-se descartáveis, o futuro tornou-se na satisfação presente de uma necessidade. gostava de saber o que dita as idas e voltas de um coração. de uma entrega. gosto de ti como se não houvesse amanhã e tu fosses o meu hoje.

será que a altura dos grandes amores, que resistiam a tudo, acabou?
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sexta-feira, julho 22, 2005

taste the rainbow.



acho que hoje comi um pacote de skittles e nem dei por isso.

vinte rosas matinais.



vinte rosas e um sono interrompido por um daqueles sorrisosdeolhosfechados.
vinte rosas e a alegria dentro do sonho e o acordar para a manhã e continuar e reforçar os traços dessa alegria de sorrisoestúpidoestampadonacara.
em cada pétala viva vejo-te - à negritude [que só vive na pele] e à tua brancura de ser.
nesta manhã, olhei-me como tu me vês.

quarta-feira, julho 20, 2005

romantismo nocturno?

dizer "amo-te" banalizou-se, mas o sentimento escasseia. e é tão raro encontrar a concordância entre a substância e a forma.


a luz ofusca o escuro confortável do quarto, a persiana corrida protege os corpos entrelaçados. amar é querer proteger, dar o mundo, fazer feliz. não dormir sem o toque da outra pessoa, sem o calor próximo da respiração. contar toda e qualquer pequena coisa que importa. a sofreguidão de querer sempre mais. a dor agridoce da saudade... horas a falar. querer dar o mundo... e ser o mundo de alguém. o amor é imperfeito, mas verdadeiro. e não se reduz numa palavra, ou duas, ou infinitas. está nos toques sub-reptícios, na pele quente, no orgulho que se tem no outro. na sorte de viver cada momento, e senti-lo como se pudesse ser o último.

adição.



em pés de silêncio caminho para um conto arco-irisado.
um conto de letras escritas de madrugada, letras soltas e móveis que dormem comigo, junto dos mundos que crio. gosto de murmurar-te a voz secreta, a voz branca, livre de qualquer tipo de filtragem. gosto da nossa praia de areia branca, sem passagens de desconhecidos.

[fotografia de ryan mcginley].

terça-feira, julho 19, 2005

...


cada vez que yo me voy
llevo a un lado de mi piel
tus fotografías
para verlas cada vez
que tu ausencia me devora entero el corazón
y yo no tengo remedio màs que amarte
y en la distancia te puedo ver
cuando tus fotos me siento a ver
y en las estrellas tus ojos ver
cuando tus fotos me siento a ver

(juanes, fotografía)


vivo em contradições. chorar não chorar, revelar ou conter dentro de mim o que sinto, quero, desejo. inúmeras vezes me disseram para não me mostrar tanto. e muitas vezes me fechei a sete, catorze, mil chaves, julgando que era a maneira certa de não voltar a sofrer. engano-me sempre. porque pode ser uma maneira de lidar com a dor, de superar... mas voltar a sofrer é inevitável... voltar a dar-me é certo... reviver é vital.


domingo, julho 17, 2005

pequeninograndedia



há dias que valem por um ano inteirinho. as escassas horas (vinte e quatro serão sempre horas a menos) são repletas por um turbilhão de emoções. vidas mudam-se num dia. rumos alteram-se, definem-se. pessoas revivem. há dias em que nos parece que o mundo devia parar. em que até o sol tem inveja da nossa luz. a lua tarda a chegar porque se sente como uma intrusa, e troca com o sol em passinhos de lã para não incomodar.


dias em que descobrimos respostas, em que desbravamos caminho rumo a um ser mais inteiro.


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viva a rã gigante de salamanca!



horas enfiada num carrocidade lindahistória respirada pelas pedraso terraço da catedrala vista a perder de vista a fazer bem à vistao deambular ociosoo sorriso dos turistas(ups eu também sou turista)a paella e o granizado de laranja gelado arrepiantea arte nova e arte deco e a casa lisa universidadea calle, o paseoa viagem de voltao cansaço mole e o sorriso satisfeito.


estranha condição esta de passear com um vazio no peito (vazio mas cheio de coisas boas), já que o coração foi oferecido...
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sábado, julho 16, 2005

bocejo.



no meu bocejo mora a escassa vontade. vivem os medos dentro do sono, as horas nocturnas que doem a passar, que antecipam dias invertebrados. no meu bocejo aloja-se o momento em que me estendo nos lençóis desfeitos pelo amor inexistente. o momento em que semeio o esquecimento, mas em que o que brota é a mais forte lembrança de um sótão fechado para o mundo, aberto para nós. era tudo o que eu queria.

quinta-feira, julho 14, 2005

kierkegaard.

aquele que eu sou cumprimenta melancólico aquele que eu gostaria de ser.

e não é assim que todos nós nos sentimos, por vezes? olhamo-nos ao espelho e não queremos ver-nos. saber que podemos ser tão maiores...

sou de opinião que devemos sempre perseguir infatigavelmente quem queremos ser. mesmo que o caminho se assemelhe a um percurso pela selva, com direito a golpes de catana a abrir espaço. ou talvez um sabre, bem ao jeito da guerra das estrelas... caminho acidentado, duro, longo, pode ser muita coisa, mas deve ser sempre um caminho percorrido...

se não tentarmos ser quem queremos, quem acabamos por ser? nós próprios ou um pálido reflexo da nossa imagem?

quarta-feira, julho 13, 2005

(sorriso)

sentou-se na esplanada e olhou em volta. o plástico da cadeira colou-se à pele salgada mas não ligou. tinha a mente noutro lugar...
por ela passaram famílias, miúdos pequenos e rapariguinhas a fazer o pino na areia, sob o olhar aprovador e orgulhoso dos pais, turistas peles vermelhas ("aquilo deve doer..."), grupos de rapazes que lhe lançavam olhares improváveis, surfistas, enfim, uma miríade de pessoas, de todos os feitios e formatos. a tarde foi passando, as horas escorregaram por ela, mas a calma permanecia.
uma mão pousa-lhe no ombro e ela sorri, desarmada. com o cabelo despenteado e o corpo exposto pelo calor do sol, nunca se sentiu tão bonita.

"estava à tua espera..."

terça-feira, julho 12, 2005

fragilidades.


... a impotência perante o choro de quem mais amo e que é sempre tão forte por mim. o fantasma das coisas más que podem acabar connosco. o medo de não ter força, de cair de joelhos no chão poeirento e soluçar. deixar-te ir quando cada átomo de mim quer que fiques. as saudades de quem mais gosto. não ser capaz de curar, de trazer o bem, de tratar, de melhorar, de dar anos de vida, de dar a vida, o mundo...


quão frágil é a vida de um humano. tratem dela, acarinhem-na, mimem quem querem, não pensem nos "ses". façam-me o favor de tentarem sempre encontrar e manter a felicidade. nem é por mim, mas por vocês. tratem de viver...

mr.sandman, bring me a dream.


tenho dormido sobre a primavera.
flores brotam debaixo do meu rosto. novas estórias a passear nos meus lábios. as pétalas caem e formam o verbo querer.
anseio por um sono contínuo, livre de pesadelos recorrentes, de sobressaltos assustados, sem ondas que me arrastem para um longe muito longe, sem tigres nocturnos que alimentem o meu pânico de feridas duradouras.

[um dia não tão tardio assim, o outono vai chegar, as pétalas morrem e restará apenas o burburinho de folhas pisadas pelo pé do sonho impossível].
[fotografia de ryan mcginley].

domingo, julho 10, 2005

"don't worry about the future; or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum."

(veio em boa altura... obrigada!)


porque por vezes a preocupação impede-nos de continuarmos. porque o medo nos ata à cadeira. meia medida de um certo receio saudável - sim, para mim receio é diferente de medo! - misturada com um sentido de aventura e uma pitada de inconformismo: receita para que nunca paremos no tempo, presos dentro de nós próprios... tudo nesta vida tem dois lados, qual moeda atirada ao ar como fuga a uma decisão. mas se só virmos um... muito nos passará despercebido.

sábado, julho 09, 2005



soltam-se as amarras para um verão que se espera feliz...


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sexta-feira, julho 08, 2005

sol.



please
tonight
last night
you
you're always
wonderful
I want you
I do
I do
I do

city girl
I want
you

city girl
you're beautiful
I love you
I do
I do
I do


[kevin shields, lost in tranlation OST]


porque também te perdes numa tradução, porque gostas de chuva, porque és menino do mar, porque não te ausentas sem razão aparente, porque encheste de poemas o meu bolso, porque me não me deixaste só numa manhã, porque me guiaste na cidade veneziana, porque me levaste contigo numa manhã rotineira - plena de simplicidades tão preciosas -, porque me passeaste na feira das velharias que de velhas nada tinham, porque vais fugir para longe e eu vou alimentar-me de saudades, porque és o meu amigo-sol e não vai haver nenhuma nuvem que te camufle.





quinta-feira, julho 07, 2005

por favor...


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...

Hundreds treated following blasts
la première explosion a eu lieu à 08h51 près de la station de métro de Liverpool Street
trinta e três mortos e 345 feridos, 45 em estado grave, é o balanço oficial dos atentados de hoje em Londres.

seconde explosion
troisième attentat
quatrième déflagration
just a day after an overjoyed city celebrated its successful bid to hold the 2012 Olympics.
Scotland Yard has denied reports they were warned of an attack



por que continuo eu a surpreender-me com a barbárie? não há explicação para a crueldade gratuita e indiscriminada.
porquê?
;(

[com quatro letras se escreve a palavra desamor].



o amor exige um rosto. um nome.
digo-o uma vez.
duas vezes.
três vezes.
tantas vezes.



repetir-TE-ei até perderes o sentido.

[fotografia de ryan mcginley].

quarta-feira, julho 06, 2005

apontamento

gosto deste cheiro a pele (cada vez mais) morena, do sal nas madeixas de cabelo, da descontracção que é adormecer com um sorriso. esta atitude expectante em relação ao que aí vem... quando perdemos nós aquele sentimento quase pueril de esperança, de boa-fé? uma ingenuidade, dizem agora... tornamo-nos cada vez mais reclusos em nós próprios, com a ideia fixa de não nos darmos a ninguém, para não nos magoarmos. não consigo evitar acreditar que a dor no final de algo deve ser sempre superada pela alegria do durante... nas minhas fases lunares juro não me voltar a partilhar, mas depois o sol diz-me que é um erro. ainda bem. gosto de me dividir por quem merece e de ter o coração aos pulos e de ficar sem ar, de me esquecer como se respira normalmente por inconscientemente suster a respiração, de respirar alguém, de sorver o ar que retém um cheiro conhecido e reconfortante...
recordem-se do bom que é mimar alguém, fazer surpresas, tagarelar ao telefone, escrever cartas à mão...
e não percam a esperança... porque se a deixarem pelo caminho... como encarar o futuro?

:)


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:))


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terça-feira, julho 05, 2005

dias assim...


sempre me questionei sobre o que fazer quando se quer avançar mas já se vê uma altura em que o melhor será parar... resposta visceral, de arrepio na espinha: viver, sonhar, aproveitar, experimentar. não há nada pior que o arrependimento por algo não feito. não alcançado. que é do ser humano sem a vontade de querer sempre mais, de subir sempre mais alto por aquele lance de escadas decrépitas em caracol? e o adormecer ainda a cheirar a mimos e ternura? e o sorriso estampado na cara?


pavor de um dia me tornar uma concha vazia, com a amargura do que não fiz e queria ter feito a transbordar, vazia mas repleta de falhanços, de medos.



segunda-feira, julho 04, 2005

copy paste.



cortar o cabelo.
lavar ventos que despenteam.
acertar as pontas do desalento.
escadear as horas de alegrias amarelas.
pentear o lamento de estórias de fins adiantados.
secar o rosto salgado.

cortar e colar.
cortar-te e colar-me.
[fotografia de ryan mcginley].

domingo, julho 03, 2005

time out (a quem me lê)

vou recolher-me, (tentar) reconstruir-me, e depois volto...
não vos quero impingir um muro das lamentações.

beijo.

sábado, julho 02, 2005

abracadabra, now it's going to fit.




não gosto de fazer malas.
os meus mundos não cabem.



talvez um destes dias...

... tudo isto faça sentido. as regras da sensatez são difíceis de passar do plano do papel, das palavras.

nunca mais voltes ao lugar
onde já foste feliz
por muito que o coração diga
não faças o que ele diz

nunca voltes ao lugar
onde o arco-íris se pôs
só encontrarás a cinza
que dá na garganta nós

quem me dera ter o rui veloso aqui a explicar-me exactamente o que ele quis dizer com isto, e quais são as excepções à regra. porque há sempre excepções.

não há?

sexta-feira, julho 01, 2005

lá para cima.



subir por um leque de escadas tortuosas e estreitas, com degraus traiçoeiros que me podem fazer cair para o abismo que se estende, vazio, por debaixo de mim. acreditar? ao longo da vida vamos subindo, degrau a degrau, cada vez mais alto, empurrados por amigos, puxados por amores, tropeçando nos inimigos. hoje de manhã arrumei furiosamente as minhas coisas, como se ao dispor cuidadosamente roupa em gavetas estivesse a ordenar o meu interior. isto vai para aqui, isto é para guardar, isto é para sentir, mas isto não, não posso, não dá. não há ordem no caos, mas reina uma certa lógica, fruto de ventos superiores que mais ordenam. que põem e dispõem de mim. a aceitação é terrível, sinto-a como desistência. mas não, não é um desistir e encolher de ombros. não é uma resignação cabisbaixa. não pode ser.

fui posta lá bem no alto...

tenho sorte.

little princess?




eu sabia.
posso viver no teu asteróide B612?



partida.




hoje observo, de longe, a minha cidade.

dentro de uma música pequenina, abro a janela e respiro as despedidas.
as luzes apagam-se uma a uma. a minha continua acesa. estou demasiado acordada em mim.

penso no que foi e no que já não pode voltar a ser. penso no que ainda é e no que nunca chegou a ser. não penso no que vai ser sempre. a minha crença na eternidade está a perder sentido.
vou dedilhando os dias que contei este ano.
conto ideais puros com que me cruzei, impossíveis - julgava eu - de corromper a esperança.
conto o cansaço inerente à minha fuga baseada em mileum caminhos.
conto uma ira tremenda, que tantas vezes irrompeu. nada saudável, dizem-me.
conto-te a ti que surges, em focos.
conto as vezes que te guardei numa gaveta sem chave. e as vezes que inventei chaves para poder voltar a abrir-te.

hoje vai ser o ontem da minha partida e tu não me vais dizer até amanhã.

quero adormecer na cidade-luz e não acordar aqui, neste quarto cheio de sombras.