domingo, outubro 30, 2005

"descobrir-te entre o estalar de cada folha que piso."


If you wanna be given everything,
give everything up.







Thought you had all the answers
to rest your heart upon
but something happens
don't see it coming, now
you can't stop yourself
now you're out there swimming
in the deep

Life keeps tumbling your heart in circles
till you let go
till you shed your pride and you climb to heaven
and you throw yourself off

now you're out there spinning in the deep...

(bird york, in the deep)

meteorologia interior.



previsão do tempo para amanhã(s):

períodos de céu muito nublado.
aguaceiros, especialmente durante a manhã.
condições favoráveis a ocorrência de trovoadas.
descida [drástica] da temperatura.

quinta-feira, outubro 27, 2005

questão existencial.


ajuda precisa-se:



como se impede alguém que amamos de sofrer?

;(

cegueira imposta.


I have seen too much
I haven't seen enough
you haven't seen it


[I'm] not scaremongering
this is really happening
[radiohead, idiotheque].

quarta-feira, outubro 26, 2005

as if they knew.

o meu horóscopo diz para não sair de casa sem um mapa.
cuidado. começo a acreditar na astrologia.

segunda-feira, outubro 24, 2005

partida.


partiu para esse futuro (in)esperado. na viagem, reparou no seu reflexo.
guardava o sorriso para o menino da cidade-luz.
prova mais um sabor amargo do sorriso que não pode permanecer no rosto.
subiu as escadas e quis lá ficar bem no cimo. mas caiu. caiu e com ela cairam as ilusões, o mundo e tudo o que ele comporta.
o corpo em combustão, a esperança que se foi queimando rapidamente, apoiada nos caminhos-de-ferro.
a incompatibilidade de emoções. a certeza de querer e a outra certeza - a de que(m) não (a) quer.
como era bom viver numa incerteza feita de beijos prolongados, silenciosos, escritos em qualquer espaço - lembras-te?
a incerteza numa noite maior, de luz apagada, de defeitos e pesadelos escondidos.
noite de mãos dadas e protecção plena.
olhos verdes-verdes, repararam no reflexo, pintado de preto e de branco, como se não existissem mais cores no mundo. como se ela não visse as outras cores do mundo. ela não vê as outras cores do mundo.

pe[r]dido.


os clientes dizem-lhe que os pedidos demoram muito a ser atendidos.
o que eles não sabem é que ela espera, ainda hoje, que o dela seja atendido.
[desenho por andré rocha]

la llorona.


ya me canso de llorar y no amanece
ya no sé si maldecirte o por ti rezar
tengo miedo de buscarte y de encontrarte
donde me aseguran mis amigos que te vas
hay momentos en que quisiera mejor rajarme
y arrancarme ya los clavos de mi penar

[paloma negra, frida OST]


o que tu não sabes é que foi com friducha e su panzón que o teu amor por mim ardeu, que eu vi o teu amor tornar-se fogo. fogo de vista, digo eu.


quarta-feira, outubro 19, 2005

ficções.

a sala cheirava a mofo, a móveis velhos e a pó nas janelas. num cadeirão verde já muito coçado ela sentava-se todas as noites à frente da velha televisão, os ossos a doerem do dia inteiro de pé, a trabalhar nas terras. a noite era a altura preferida para ela, sempre tinha sido, desde há oitenta anos. vestia o vestido preto simples que a neta lhe tinha dado um natal atrás, há muitos anos, punha as argolas de ouro que a mãe lhe dera quando se casou e assim ataviada via o jornal, as novelas, tudo o que passasse. sim, pensava ela, porque se eu os vejo tão bem, quem me garante que eles não me vêem também?? e assim se passavam as noites, solidão preenchida por um ecrã cheio de vidas que ela vivia agora como suas.

terça-feira, outubro 18, 2005

avesso.


onde pus as chaves de casa? quarto do avesso, roupa do avesso, eu do avesso. 'cause I know I'm a mess he don't wanna clean up. não encontro as chaves de casa e as do meu próprio corpo. estou presa dentro de mim. como poderia saber onde estão as chaves, se nem sei onde moro?
sono. muito sono. fruto de dias fragmentados. aglomerados de sobe escadas, desce escadas, tira cafés, sorri para as pessoas, finge que és feliz. estás sempre tão bem disposta!, dizem-me. sou mesmo boa nisto. em fingir, digo eu. transparecer uma felicidade carnavalesca, rica em adereços barrocos que vou coleccionando aqui e ali, hoje e amanhã, dentro de um baú cheio de sonhos [ultra]passados, mal passados, crus, não começados ou que nem tiveram espaço para começar.

sim, eu virada do avesso. verificar se estou inteira por dentro.
[fotografia de anna olsson].

domingo, outubro 16, 2005

love you to the bone.



tudo o que eu te dou
tu me dás a mim
tudo o que eu sonhei
tu serás assim
tudo o que eu te dou
tu me dás a mim
tudo o que eu te dou...


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sexta-feira, outubro 14, 2005

dia dançante.




oh I'm scared of the middle place
between light and nowhere
I don't want to be the one
left in there, left in there

[antony and the johnsons, hope there's someone].

porque o dia de hoje parece ter dançado ao som desta melodia.
as horas esperavam alguém que me guardasse, os minutos pediam a liberdade do coração num cansaço maior, os segundos choravam o sono e a exaustão e o fantasma sempre de volta de mim.
porque a noite chegou e o dia de hoje pediu que eu não chegasse sozinha, no fim. pediu que esse guardador de um amanhã mais sorridente me levasse para outro dia. um dia que não dançasse ao som desta melodia.




In the game of love
It takes all you got
Just to keep it moving up

Don't you wanna reach the top

But heaven seems such a crazy dream
If your heart has room for doubt
You're neither in you're neither out

99 and a half it just won't do

You gotta give me all of you

Not asking too much of a heart that's true

So tell me...
What's the name of the game that we are playing

But whenever I think that we are winning

Then you roll the dice take a slide

Right back to the one from 99

Is it gonna go on like this forever

Are we gonna take that last step together

Going round and round and up and down

Feels just like snakes and ladders...


(Joss Stone)


para ti!


... boopucanina... :(

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quarta-feira, outubro 12, 2005

direito de resposta.


se ela se for embora, esvazia de ar puro a cidade insuflável, esvazia um balão de esperança em espíritos às cores, esvazia-me desse ar puro e dessa esperança.
elas estão cansadas porque não conseguem ser felizes, estão cansadas do tudo que se revela consecutivamente um nada.
ela não sabe para onde vai. ela tem de ficar, mesmo querendo ir também.
ela não percebe que o entre-linhas se alimenta também do arroz-doce.
para rir contigo, para chorar contigo, para espalhar imagens mesmo que em sistema binário. para mim e para todos os que gostam do teu (tão teu) 53.
antes tudo era mais a preto e mais a branco e não havia as cinquenta e três cores que eu não conhecia, que estavam ao meu lado e eu não conhecia.
provei o arroz-doce e soube, desde a primeira colher, que este sabor novo já me era tão familiar.

muito, meu amor.



mas gostava que soubesses que já gostava muito de ti, embora
ainda não tenha tido tempo de saber o que é isso de gostar muito de ti.
não, o que me assusta mesmo muito, quase terror por vezes, é depois não poder voltar atrás. quero dizer, depois de começar a gostar de ti como gosto, já não consigo desfazer isso que se fez, sei lá o quê, o que nos traz juntos até aqui.

[pedro paixão, muito, meu amor].

escrever silêncios.


shhh.
o silêncio alimenta a palavra escrita.
a palavra escrita voa mais longe do que a palavra falada.
a palavra falada não adquire contornos da verdade que quero ler.
por isso, não fales.
shhh.
lê o silêncio.



(in a manner of speaking i just want to say that I could never forget the way you told me everything by saying nothing. oh give me the words give me the words that tell me nothing. oh give me the words give me the words that tell me everything)

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permeável.



hoje sou uma menina de chapéu-de-chuva transparente e toda a gente pode ver a chuva a inundar a minha força.
estou perdida numa tradução e quero viver nesse lugar estranho.
juntar palavras de horas nocturnas, passear um sorriso que não sabe se pode continuar no rosto amanhã, esperar-te e não saber se algum dia chegarás.
traduzir o presente num futuro (in)esperado.

o mundo está demasiado rápido, e eu demasiado lenta.



sexta-feira, outubro 07, 2005

paper bag.




hoje sou uma folha amarrotada.
não.
sou uma folha em branco amarrotada.
uma folha pequenina, em branco, amarrotada.

quinta-feira, outubro 06, 2005

escadas.


relembro as palavras que subiram e desceram as escadas recônditas, afastadas de uma noite embebida em convívio colectivo para tantos.
hoje queria estar nessas escadas, ora de sorrisos tímidos a evitarem o contacto directo e o silêncio inerente ao momento esperado, ora de olhar atento a cada gesto, cada ideia, cada reflexo.
o medo persiste. não sei se as palavras podem ir até ao mais elevado degrau ou se terão de ficar pela base. mas a descoberta feita na lentidão do passar dos dias continuará.
hoje e amanhã e depois de amanhã queria subir essas escadas.

quarta-feira, outubro 05, 2005

e se...


... eu te disser que vai ficar tudo bem? prometo espalhar por cima de ti - quando dormes, que é para não desconfiares de nada... -
pós de perlimpimpim que garantam isso. que brilhem tanto como tu, mora.

vou só num instante procurá-los.


(se houver outro ontem espalhas alguns por cima de mim?)

fly me to the moon...
















(manuel passos)



ontem foi o dia do eclipse... e milhares de narizes ergueram-se para o ar.

à procura de quê?

(eu sei o que procuro a cada gesto meu. no eco dos passos na casa vazia - como eu. na luz que entra pela janela. nas vozes dos vizinhos, nas suas vidas. na lua e no sol e nas pessoas que passam na rua.)

(algo teu.)

obrigada.

gosto quando a minha amora me vem dizer que ontem "imensa gente" elogiou o nosso blog. é bom sentir que as nossas palavras têm eco, mesmo quando são devaneios incompreensíveis ao comum mortal menos desequilibrado. as coisas boas partilham-se. as más desabafam-se. gosto do ombro cibernauta em que nos apoiamos.



gracias a la vida... e a vocês.

palavras (não) faladas.


behind all the clowning there's a sense of anguish.
[mce].

e por detrás da minha escrita menos explícita, fica tanto por dizer.



segunda-feira, outubro 03, 2005

agarrar[-te] a luz.


é ela que se consome numa distância de três mil kilómetros e chora e eu não sei desencadear o riso nela. sou eu que choro essa mesma distância, mas às escondidas. não posso. ninguém pode ver que eu choro. são elas que acolhem um grande amor e eu fico feliz e sorrio e suspiro de descanso e choro porque não sei o que isso é. mas ninguém pode ver que eu choro. ninguém. sou eu atrás de um balcão a ver-te sentado numa mesa, a não gostares de mim, a não me quereres, a apagares o momento de há trezentos e sessenta e cinco dias atrás. é o pai dela que se arrasta numa doença má e eu não posso travá-la e não sei mostrar-lhe o lado bom, porque ele não existe. é ela que se quer ir embora e eu não sei porquê nem para onde e mesmo sem estar com ela, não quero que ela vá porque gosto de um arroz-doce diário. é ela que foi atropelada e não tem ar suficiente nos pulmões e já não ladra nem salta quando chego a casa. é o espelho que não reflecte o que eu quero, espelho meu espelho mau, será sempre mau o meu espelho. sou eu que não consigo dormir e dou voltas e mais voltas e pergunto-me quando chegará a sonolência natural para não ter de recorrer à artificial que me mata aos poucos. é o dia de hoje que é frio e tem cinza no ar e o sol eclipsou-se e eu quero agarrar a última luz.
ouviste? quero agarrar a luz - hoje mais do que sempre.


domingo, outubro 02, 2005

quintessência.


eu sou apenas o que herdei

mais as tralhas que encontrei, por aí
sou a casa onde me criei
a cama onde me deitei, por aí

tu és um caso de outra essência
o fracasso da ciência
tudo o que está mais além
és o mistério acabado
o que nunca foi explicado
e ainda bem!

e é só por isso
que o meu pobre coração
bate fora da razão
quando bate ao pé de ti

(filarmónica gil, "é só por isso")


quintessência: de quinta + essência; s.f., extracto levado ao máximo apuramento; o que há de melhor; a parte mais pura; o mais alto grau; requinte.


(tu.)