quinta-feira, fevereiro 23, 2006

boneca de trapos.

jeux d'enfants.


e amar assemelha-se, cada vez mais, a jogo sem regras ou de regras unilaterais. porque tu podes reivindicar a verdade sem consequência, eu tenho de carregar às costas o peso do depois.
eu ou tu. não eu e tu.
e é perder-te assim perdidamente. é seres eliminador de traços, é seres estilhaço e lâmina em mim, é não poder gritar-te senão dentro da pele, sob a epiderme, debaixo da coberta. é sentir-te a correr à flor da pele. é ser transparente e permeável aos olhos do mundo.
finita la comedia.
cap?
pas cap?

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

refúgio.



queria as pegadas de novo a entrelaçarem-se na areia, desenhando caminhos sinuosos, cruzando-se de maneira cúmplice. as estrelas voltariam a sorrir e, sob a lua, o cobertor de novo a aquecer-nos, um abraço a fazer-me esquecer o medo das sombras. lembro-me de tudo, o cheiro a maresia nocturna, as fotografias experimentais, a esplanada que eu jurava estar a observar-nos.
olhar cada traço de alguém, traçar as linhas que lhe percorrem o rosto, o contorno dos lábios, dos olhos, das pestanas. saber de cor cada ângulo e cada recanto de um corpo, o encaixe perfeito.
é uma dádiva poder ser-se feliz. mesmo à distância, amor não deixa de ser amor.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

grey bear with blue nose...


gosto de ti todos os segundos de todos os minutos de todos os dias.
gosto de ti como se não houvesse amanhã e tu fosses o meu hoje.
gosto de cada milímetro teu.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

virgindade literária.



hoje é um dia de folhas virgens,
de carregar na ponta dos dedos a indecisão, as palavras sem letras.
de carregar na ponta dos dedos os cigarros fumados até meio, como se a própria vida fosse vivida até meio,
como se te conhecesse só até meio, como se metade fosse.
como se respirasse só até meio e não tivesse interior suficiente para inspirar o mundo em volta.
como se tudo fosse tão grande e eu fosse tão pequenina e me perdesse e não te encontrasse e não me encontrasses.
como se a minha pá não escavasse até ao mais fundo da terra e eu não agarrasse no tesouro,
como se entrasse na noite escura e não descobrisse o dia claro. escura que sou eu, claro que és tu.
porque afinal o mundo é fundo e largo e tem tesouros sob terra
como esse beijo sonoro que berra e diz que estás aqui
aqui tão perto, aqui não tão longe,
de braços prontos a fecharem-se à distância, olhos arregalados para a proximidade,
olhos secos de dia, olhos secos de noite, olhos de onde o mar foge e onde não pode simplesmente regressar.


sexta-feira, fevereiro 03, 2006

que não seja o quarenta e nove. que não seja o quarenta e nove. que não seja o quarenta e nove.


quatro números separam o medo do fim.
uma porta separou o tudo do nada.
sem surpresas.
sem surpresas.
o quarenta e cinco, o quarenta e nove e vinte um anos de sobe e desce escadas.
acendeu-se o fogo e a certeza cinzenta ficou para lá morar.
a água não chega, o tempo demora-se, os gritos acordam, as vozes choram alto. o fogo queimou o silêncio. shhh. deixa a casa morrer em paz.
dias e noites e tardes de verãooutonoinvernoprimavera dentro de memórias em chamas, medo em chamas, lágrimas em chamas, vinte e um anos, quase vinte e dois de sobe e desce escadas das casas gémeas em chamas.
casas gémeas, rostos gémeos, recordações gémeas.
não respiro fundo porque a ausência é feita de cinzacinzenta feita de medoafogueado e pode entrar em mim, esquecer-se que quatro números depois está a minha vida.


acendeu-se o dia, apagou-se a luz.

[I'll take a quiet life, a handshake of carbon monoxide, with no alarms and no surprises, no alarms and no surprises, no alarms and no surprises, silent silence.
such a pretty house and such a pretty garden. no alarms and no surprises, (get me out of here)no alarms and no surprises, (get me out of here)no alarms and no surprises(get me out of here) please].

radiohead.