é ela que se consome numa distância de três mil kilómetros e chora e eu não sei desencadear o riso nela. sou eu que choro essa mesma distância, mas às escondidas. não posso. ninguém pode ver que eu choro. são elas que acolhem um grande amor e eu fico feliz e sorrio e suspiro de descanso e choro porque não sei o que isso é. mas ninguém pode ver que eu choro. ninguém. sou eu atrás de um balcão a ver-te sentado numa mesa, a não gostares de mim, a não me quereres, a apagares o momento de há trezentos e sessenta e cinco dias atrás. é o pai dela que se arrasta numa doença má e eu não posso travá-la e não sei mostrar-lhe o lado bom, porque ele não existe. é ela que se quer ir embora e eu não sei porquê nem para onde e mesmo sem estar com ela, não quero que ela vá porque gosto de um arroz-doce diário. é ela que foi atropelada e não tem ar suficiente nos pulmões e já não ladra nem salta quando chego a casa. é o espelho que não reflecte o que eu quero, espelho meu espelho mau, será sempre mau o meu espelho. sou eu que não consigo dormir e dou voltas e mais voltas e pergunto-me quando chegará a sonolência natural para não ter de recorrer à artificial que me mata aos poucos. é o dia de hoje que é frio e tem cinza no ar e o sol eclipsou-se e eu quero agarrar a última luz.
ouviste? quero agarrar a luz - hoje mais do que sempre.
8 comentários:
Uou!! Acabo de ler o texto sem saber o que dizer...nem consigo coordenar muito bem as palavras.
Talvez "fantástico"!! Serve?
Beijo
... há aqui muitas referências que decerto só tu entenderás, mas meu dEUS, que belo texto marta... muitos parabéns, sinceramente... beijo (hoje não digo cheer up porque este texto conseguiu-me por deprimido... e olha que isso não é negativo...)
miuda..
posso não ser grande luz, mas podes crer que sou uma velinha pronta para te iluminar, a ti e ao teu balcão
:P
...Intenso... Desconcertante... Lindo... Tu...
As coisas vão melhorar, não te preocupes. Tu já és muita luz para que qualquer uma dessas "sombras" possa ocultar o verdadeiro brilho da tua natureza.
martinha, não imaginas como a grandiosidade das tuas palavras me enche a alma. não me consigo cansar de dizer como é lindo tudo o que escreves. venha de onde vier, ou porque motivo for. dás cor, vida, beleza às frases que constróis com tanta arte claramente natural que te escorre da alma como água de uma torneira.
ela quer-se ir embora porque não consegue ser feliz. estás cansada do tudo que se resume em nada. nem ela sabe para onde vai. só quer ir. mesmo não estando contigo está sempre. e já não vê sentido em fazer diariamente arroz-doce. para quê? para quem? porquê? e antes, não era tudo igual?!
gosto muito de ti.
quatro mil quilómetros. e não choro tanto porque existes tu.
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