Permanece apenas em mim o roçagar dos seus lábios e, ao entreabrir os olhos, o juramento secreto que trazia na pele e que recordaria todos os dias da minha vida.
(...)
Um homem jovem, coroado já de alguns cabelos brancos, caminha pelas ruas de uma Barcelona apanhada sob céus de cinza e um sol de vapor que se derrama sobre a Rambla de Santa Mónica como uma grinalda de cobre líquido.
Leva pela mão um rapaz de uns dez anos, olhar embriagado de mistério perante a promessa que o pai lhe fez ao alvorecer, a promessa do Cemitério dos Livros Esquecidos.
- Julián, não podes contar a ninguém aquilo que vais ver hoje. A ninguém.
- Nem sequer à mamã? - inquire o rapaz a meia voz.
O pai suspira, amparado naquele sorriso triste que o persegue pela vida.
- Claro que sim - responde. - Para ela não temos segredos. A ela podes contar tudo.
Daí a pouco, figuras de vapor, pai e filho confundem-se entre a multidão das Ramblas, os seus passos para sempre perdidos na sombra do vento.
Carlos Ruiz Zafón
"A Sombra do Vento"
é que há livros que nos tocam como se fossem pessoas e estendessem a mão para partilharmos a sua história.
1 comentário:
adorei... deve ser um livro "daqueles" :) um dia tenho de me lembrar de lhe passar os olhos por cima. bejinhos
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