quarta-feira, novembro 29, 2006

...

estive a recordar poemas favoritos. de ary dos santos, de pessoa, de e. e. cummings, de cesariny.
não tenho o dom de brincar com as palavras, de com elas criar castelos imaginários, pontes que vão ter à alma de cada um.
resta-me a sinceridade.

(é que te trago comigo e não sei como te deixar ir.)

bom dia...

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Ary dos Santos

terça-feira, novembro 28, 2006

ao afogar os medos.




it's cold I'm afraid
it's been like this for a day
the water is rising & slowly we're dying
we won't see light again

[matt elliott, the kursk]




*fotografia de amanda marsalis.

segunda-feira, novembro 27, 2006

...

porque ainda preciso de ti já não sei viver comigo, porque te vejo em cada esquina desiludo-me a cada passo. quando nos levam a alma resta pouco, fica a incompletude de quem voga ao sabor da memória de um beijo.

eu prometo que vou tentar anjo.

I'll make you proud.

domingo, novembro 26, 2006

para ti.

because your breath is still in me
and you shape is still around
and this shallow light won’t let me go, no…
because even if you break my heart
and even if you make things wrong,
you will always be the one,
you will always be my love.



the gift.


respirar fundo
respirar fundo
respirar fundo
e ganhar novo fôlego.

a verde porque é a cor da esperança.
e não só.

acordar para a ausência.

não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso

[mário cesariny].

sábado, novembro 25, 2006

perfeição.

Permanece apenas em mim o roçagar dos seus lábios e, ao entreabrir os olhos, o juramento secreto que trazia na pele e que recordaria todos os dias da minha vida.
(...)
Um homem jovem, coroado já de alguns cabelos brancos, caminha pelas ruas de uma Barcelona apanhada sob céus de cinza e um sol de vapor que se derrama sobre a Rambla de Santa Mónica como uma grinalda de cobre líquido.
Leva pela mão um rapaz de uns dez anos, olhar embriagado de mistério perante a promessa que o pai lhe fez ao alvorecer, a promessa do Cemitério dos Livros Esquecidos.
- Julián, não podes contar a ninguém aquilo que vais ver hoje. A ninguém.
- Nem sequer à mamã? - inquire o rapaz a meia voz.
O pai suspira, amparado naquele sorriso triste que o persegue pela vida.
- Claro que sim - responde. - Para ela não temos segredos. A ela podes contar tudo.
Daí a pouco, figuras de vapor, pai e filho confundem-se entre a multidão das Ramblas, os seus passos para sempre perdidos na sombra do vento.
Carlos Ruiz Zafón
"A Sombra do Vento"
é que há livros que nos tocam como se fossem pessoas e estendessem a mão para partilharmos a sua história.

entre-beijos.


ele não sabe
que quando ela inicia o choro
[entre-beijos],
acredita no pesadelo em viva carne,
dorme na insónia do desamor.
rasga o dia em que conseguiu dar um lugar,
a seu lado,
ao voo ascendente de uma narrativa aberta.

quinta-feira, novembro 23, 2006

quarta-feira, novembro 22, 2006

quatro de dezembro.


I wanted to fucking blow my brains out every five minutes and I didn't know how to explain it to any of my friends, because I never got to see them. I was touring. So the moments I would see them, I would try to be happy for them, because I never got to see them. But I didn't reveal what I was going through emotionally.


Cat Power em entrevista realizada por Fred Armisen e Brandon Stosuy, treze de novembro de dois mil e seis.
do outro lado da rua,
do lado em que se vive na sobreposição da vida,
do lado em que se vive na observação dos passos,
reparou que ela saía todos os dias de abandono no olhar
e sombra debaixo do braço.

terça-feira, novembro 21, 2006

the killers, numa manhã cinzenta.

I believe in you and me
I'm coming to find you
If it takes me all night
Wrong until you make it right
And I won't forget you
At least I'll try
And run, and run tonight
Everything will be alright
Everything will be alright
Everything will be alright
Everything will be alright
...
I'm dreaming 'bout those dreamy eyes.

quinta-feira, novembro 16, 2006

sabedoria messengeira.

você não pode pedir a atenção de alguém com tanta frequência.

[...]

terça-feira, novembro 07, 2006

dá licença?


eu quero uma licença de dormir,

perdão pra descansar horas a fio,

[...]

adélia prado.

segunda-feira, novembro 06, 2006

domingo, novembro 05, 2006

sexta-feira, novembro 03, 2006

lisboa.

(receita para tornar o meu quartinho novo acolhedor)

cinco caixotes recheados de livros e cds. e tralhas. e loiças.

três malas, dois sacos de viagem e duas mochilas com roupa. (!)
sacos e sacos (dos grandes ai) com as mais variadas coisas que eu nem me lembrava que tinha.
e aí estou eu, de armas e bagagens.
inacreditável.

inutilidade, a.k.a. couch potato.


(suspiro)