gosto do filme as horas. não gosto dos ponteiros a acelerar em direcção à palavra despedida.
gosto de abraçar a luz, o vento, o sol, a noite, o mundo inteiro, como a anaïs faz na casa do incesto. gosto de ser abraçada. não gosto de ser cercada.
gosto de vida. não gosto da resistência que esta requer.
não gosto da morte dos outros. gosto da morte de quem não quero ser.
gosto de erguer-me para ti. não gosto de acordar para a ausência.
gosto de gargalhadas sem fim. gosto que os nossos risos se cruzem, entrelacem e confundam. não gosto de chorar à tua frente.
gosto do gulbenkian e do adamastor, do alandra e da sagres preta, das estórias que a tua voz me conta. não gosto dos outros jardins e da queima, da stout, do alandra bebido a uma boca e das estórias que correm na minha voz.
gosto de poder ser menina, usar bandolete como há quinze anos atrás. gosto do tim burton, do jack e da sally, do victor e da emily, do oyster boy e da voodoo girl. não gosto de não poder comprar o mundo fantasioso para nele entrar.
gosto da lhasa, da cat power e do matt elliott. gosto de ouvi-los no teu escuro. não gosto que não gostes da karen O.
gosto de sonhar alto e voar ainda mais alto.
gosto de imaginar que a nossa história é desenhada pelos traços da fernanda fragateiro. não gosto quando não imagino.
gosto do lost in translation, do bob e da charlotte. não gosto da scarlett johansson e de dobragens. gosto do amor traduzido em palavras.
gosto de ti, do azul-mar e do sorriso primaveril.
não gosto de não saber-te, de te ter sem te ter completamente.