perguntaste-me se procurava o amor.
sim, procuro o amor.
e, por vezes, a procura é tão voraz, tão alarve, que acabo por me esquecer de mim nos meandros de paixões acendidas por desejos-rastilho menos sensatos.
mas (há sempre o contraste entre o que se constata agora ou em dias passados), sabes que sei quando um grande amor, um amor não (re)buscado, não procurado, mal encontrado, surge e me cala a respiração de forma abrupta e eficaz. surge e asfixia a vida.
sim, antevejo um final infeliz - ils ne se marièrent pas et n'eurent beaucoup d'enfants -, um final pouco cor-de-rosa, a roçar o cinzento, a côr que não é e não deixa de ser.
sabes? também eu queria queimar a amargura, perdê-la de vez no incêndio da alma velha e cansada, corpo gasto e retalhado.
também eu queria amaciar a aspereza, alisar as rugas do abandono, os relevos da dor e do desamor.
o que me fazia chorar eram as coisas. apesar de não ter nenhum desgosto. e quando dava por mim a chorar, sem causa aparente, é porque tinha visto qualquer coisa sem querer.
[samuel beckett, primeiro amor].
9 comentários:
UOU...
és um espanto, mereçes alguém mais que extraordinário!
Acredita, tou aqui há 5 minutos a escrever e apagar coisas para comentar o post...tou mesmo sem palavras. Tá fantástico!!
E adoro o pormenor da foto!!
Beijo
(não te tenho visto...tou com saudades da tua luz e das tuas palavras)
Minha coisinha linda por dentro e por fora.
Ler isto tocou-me. Porque a pergunta que te fiz também a faço a mim própria. Algumas... Muitas vezes.
"If the sun should tumble from the sky
If the see should suddenly run dry
If you love me, really love me
Let it happen darling, I don't care
Shall I catch a shooting star
Shall I bring it where you are
If you want me to, I will.
You can set me any task
I'll do anything you ask
If you'll only love me still" (Hymne à l'amour, Jeff Buckley)
Sabes? Ainda há finais felizes. Ainda há histórias de amor. Há sim.
A 500, 5000, 50000... ;)
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your words sound more like amor a 120.*
De ler e chorar por mais!Parabéns.
linda...
preciso de conversa!
com balcão, sem balcão..
..mas ta tudo bem ;)
to a gostar mais destes posts
Suguei as palavras a vermelho até me engasgar.
Certeiras...
palavras bonitas! mas não há alma e corpo que, com tão poucos anos de vida, sofra desmesuradamente...assim, assim como tu sofres. tanta coisa que faz chorar, essas tantas que também fazem crescer... a alma é alimentada por tudo o que queima, e é o corpo que arde! e a alma so envelhece quando o corpo já carbonizou...ainda vai demorar!
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