segunda-feira, junho 13, 2005

dormência.


ninguém deseja o veneno
da noite despovoada.

eugénio.



eu acordo com travo amargo a desalento, de olhos postos numa imagem que, improvavelmente, irá cair na repetição.

o meu corpo ainda está dormente, fruto de um sono imposto, artificial.

hoje acordei com o cheiro da morte. e não sei lidar com a ausência.
vou agarrar-me às palavras e esquecer que nos deixaste.

[eugénio, sinto que as palavras estão, de facto, gastas].


4 comentários:

Anónimo disse...

a hora do poeta vai começar...

João Campos disse...

Parte o homem, fica a obra (digo sempre isto, mas é verdade).

Quanto a ti, isso de pores fotos tuas no blog é lixado...assim uma pessoa fica sem dar atenção ao que está escrito. :P

Beijo

Anónimo disse...

Mais uma vez deste a volta ao destino. Hoje é dia de aniversário de Fernando Pessoa. Por isso fizeste questão de querer participar no seu banquete, com os demais eleitos: Orfeu, Camões, Cesário, Pessanha, Luís Miguel Nava e tantos outros, noutra estrela.
Queria lembrar-te que a luz que levas contigo não é apenas a luz da Foz atravessada por gaivotas, como era o teu desejo. É também o sonho de Prometeu que partilhaste com todos nós.
Deixa-me dizer-te ainda que agora que encontraste a ondulação do silêncio, e ascendeste à suprema dignidade que só a arte confere, podes ficar descansado que a usura do tempo nunca apagará a musicalidade dos teus versos azuis azuis azuis. Nem as tuas palavras porosas que deixaste atravessadas nos lábios adormecidos e nos olhos sequiosos de luz.
Lembras-te de um dia escreveres, em jeito de epitáfio que ainda o não era, que o outro tinha a certeza de ser eterno enquanto tu só conhecias o desejo do corpo? Agora que não tens nada, tens a certeza do outro.
Esta manhã, um amigo nosso deixou-me esta mensagem: «Hoje é dia de não-azul, não-silêncio, não-palavra. O poeta fechou a boca do seu coração. O poeta acabou o seu tempo». Corroboro, visceralmente, todas as suas afirmações, menos a última.
Porque agora sim, começou o tempo do poeta.
Até amanhã, Eugénio.

António Oliveira

Paulo Aroso Campos disse...

Melancolia - Melancolie

Le soleil entre peine dans la maison - j'écris sur la fugitive lumière de sable, lumière qui ne trouve pas de demeure.
Tout me fait mal en ce jour ou les morts laissent à la porte des vivants la corrosive mélancolie.

O sol entra em casa - escrevo sobre a fugidia luz de areia, luz que nao encontra morada.
Tudo me doi neste dia em que os mortos deixam à porta dos vivos a corrosiva melancolia.

Eugénio De Andrade
(in www.erasmus_paris.blogspot.com)