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segunda-feira, janeiro 28, 2008

I'll read you a story.*


os poemas nascem debaixo das ondas,

antes da espuma da rebentação.

quando rebentam,
junto das árvores caducas,

desfazem-se as palavras,
em monossílabos que não dizem mar.

é aí que morrem os dias.
*[colleen].
fotografia de jannie regnerus.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

não há morte ou paixão que esta cidade não conheça - mas o corpo não se lembra de tudo.*


e percebi que na palavra fim não cabem todas as feridas.


[al berto, os ossos encheram-se de lodo].

quarta-feira, novembro 21, 2007

der himmel über berlin.


não desisto enquanto não encontrar potsdamer platz.*

*in as asas do desejo, wim wenders.

terça-feira, maio 22, 2007

once I wanted to be the greatest.*

mas há segundos em que uma torrente de maus ocasos
de maus acasos
te impedem de seres matéria


há dias em que és só o pó que restou do que, noutro dia
[noutro dia em que eras matéria]
pousavas os sonhos na mesa para todos verem
todos verem os teus sonhos.


no wind of waterfall could stall me
and then came the rush of the flood
stars of night turned deep to dust
[cat power, the greatest].

domingo, fevereiro 25, 2007

quarta-feira, julho 26, 2006

[con]sequências dos dias.



e as semanas passaram a ser meras sequências de números, encarnando antecipações de paragens cardíacas, de tremores que de novo nada têm.
o fim é para a semana que vem, o fim é no mês seguinte, o fim existe e vai chegar. mais sequência, menos sequência, o amor morre nas minhas mãos.

quinta-feira, junho 29, 2006

said oa oiràrtnoc.


há dias virados ao contrário em que os pés caminham sobre as nuvens, despertam a chuva e adormecem a claridade.

há dias em que a manhã nunca chega e o sol tarda.
há dias em que o início madrugador não chega a ser dia.
há dias em que o coração sai pela boca.
há dias em que o coração sai pela boca e deixa os batimentos para trás.

sexta-feira, maio 26, 2006

tragicomédia.

[...] a imaginação é uma faculdade da alma, a alma é o que nos dá a vida, a vida acaba na morte, a morte faz-nos pensar no céu, o céu está por cima da terra, a terra não é o mar, o mar está sujeito aos temporais, os temporais atormentam os navios, os navios precisam de um bom piloto, um bom piloto tem prudência, (...) a necessidade não tem lei, quem não tem lei vive como bruta fera, e por consequência sereis condenado a todos os demónios.
[esganarelo, d.joão. molière, acto v, cena 2].

deixem-me em dias imaginados, na alma viva de memórias futuras, longe da vida moribunda, acima das nuvens, longe das ondas que arrastam o sonho.
se me quiserem nessas ondas, que me deixem guiar o navio, de audácia na proa, sem prudência, libertando a necessidade.
que me deixem atravessar essas ditas tormentas, ser bruta fera, fera em bruto, condenada ao desmoronamento dos anjos, ao erguer dos demónios.

domingo, abril 23, 2006

amor a cinquenta.



perguntaste-me se procurava o amor.
sim, procuro o amor.
e, por vezes, a procura é tão voraz, tão alarve, que acabo por me esquecer de mim nos meandros de paixões acendidas por desejos-rastilho menos sensatos.
mas (há sempre o contraste entre o que se constata agora ou em dias passados), sabes que sei quando um grande amor, um amor não (re)buscado, não procurado, mal encontrado, surge e me cala a respiração de forma abrupta e eficaz. surge e asfixia a vida.
sim, antevejo um final infeliz - ils ne se marièrent pas et n'eurent beaucoup d'enfants -, um final pouco cor-de-rosa, a roçar o cinzento, a côr que não é e não deixa de ser.
sabes? também eu queria queimar a amargura, perdê-la de vez no incêndio da alma velha e cansada, corpo gasto e retalhado.
também eu queria amaciar a aspereza, alisar as rugas do abandono, os relevos da dor e do desamor.

o que me fazia chorar eram as coisas. apesar de não ter nenhum desgosto. e quando dava por mim a chorar, sem causa aparente, é porque tinha visto qualquer coisa sem querer.

[samuel beckett, primeiro amor].

terça-feira, março 28, 2006

caixinha cor-de-rosa.


tenho uma caixinha cor-de-rosa
onde guardo um antigamente sorridente
pendente
tenho uma caixinha cor-de-rosa
onde sou bailarina de música muda
surda
tenho uma caixinha sem côr, com dor,
de um rosa já apagado, de madeira trabalhada a ferro, a fogo
trabalhada a fome de fruto não fugaz
trabalhada a sede de som de silêncio
fechada a sete segredos,
sete chaves que dançam tempos felizes.

yeah yeah yeahs, parte II.



cheated by the opposite of love
held on high and up up up above
kept my high from the second one
kept my eye on the first one now
take these rings and store them safe away
I'll wear them on another rainy day

well I’m take it take it take it take it taking it off.


[yeah yeah yeahs, cheated hearts].

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

virgindade literária.



hoje é um dia de folhas virgens,
de carregar na ponta dos dedos a indecisão, as palavras sem letras.
de carregar na ponta dos dedos os cigarros fumados até meio, como se a própria vida fosse vivida até meio,
como se te conhecesse só até meio, como se metade fosse.
como se respirasse só até meio e não tivesse interior suficiente para inspirar o mundo em volta.
como se tudo fosse tão grande e eu fosse tão pequenina e me perdesse e não te encontrasse e não me encontrasses.
como se a minha pá não escavasse até ao mais fundo da terra e eu não agarrasse no tesouro,
como se entrasse na noite escura e não descobrisse o dia claro. escura que sou eu, claro que és tu.
porque afinal o mundo é fundo e largo e tem tesouros sob terra
como esse beijo sonoro que berra e diz que estás aqui
aqui tão perto, aqui não tão longe,
de braços prontos a fecharem-se à distância, olhos arregalados para a proximidade,
olhos secos de dia, olhos secos de noite, olhos de onde o mar foge e onde não pode simplesmente regressar.


sexta-feira, janeiro 13, 2006

sextafeiratreze.



hoje acordei e queria ser feliz. hoje acordei e queria ser feliz como tu. achar que a serenidade sorridente estátãopertotãoperto, mesmo ao fundo daquela rua, lembras-te? ao fundo daquela rua, nas escadas daquele café, onde olhavamos o reflexo duplo, o reflexo duplo e uno.
hoje acordei e não era feliz. hoje acordei e não era feliz como tu. desci a rua e a serenidade sorridente estava t ã o l o n g e t ã o l o n g e, mesmo desaparecida ao fundo daquela rua, lembras-te? ao fundo daquela rua, nas escadas daquele café, onde olhei o reflexo único, o reflexo único e desfeito em mil pedacinhosinhosnhosinhosinhos.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

the weights, the weights into my little heart.


um dia, quando menos esperar por ti.
um dia, quando já for amanhã e nunca ontem, nunca hoje.


and (s)he gets in my room and (s)he takes it apart.

(s)he puts the weights into my little heart.

I said (s)he puts the weights into my little heart.
[interpol].

domingo, dezembro 04, 2005

erase and rewind.



erase and rewind.

quarta-feira, novembro 16, 2005

amanhã, liberdade.


empurro-me, todos os dias, para amanhã.
amanhã, amanhã, amanhã.
amanhã vou abrir as portadas da janela, colar a luz no quarto.
amanhã vou esconder-me de vocês, vou ficar enrolada no novelo que criei, vou arrumar coração e sangue e pele num canto do corpo e respirar um cenário novo.

'amanhã vou ser feliz, não vou, mãe?'
respirar um cenário limpo. livre de infinitas histórias finitas.
l-i-b-e-r-t-a-r--m-e.
soltar o orgulho amarrado e explodir a esperança.
negar o desamor e a nudez do coração. o meu coração. o teu desamor. negar-te.
[fotografia de ryan mcginley].

segunda-feira, novembro 07, 2005

um, dois, três: respirar.



respirar uma noite construída em inícios do século XX, de som alto a perfurar o peito; a música a entrar e a ficar e a pedir para que permaneça como âncora em tempos agrestes.
e eras tu, a um nível superior do nosso olhar, a criar palavras de uma perfeição que magoa, que inibe as tentativas de ascender ao cume de mim.
era a vida a espelhar-se nos refrões cantados e eu a sussurrá-la para mim - baixinho, porque ninguém pode saber como sou prisão, como o nada bate a porta, que me lembro morte e sorte, como encarnas revolução, como és tudo o que eu vejo, como o dois (não) veio depois.

e é o regresso à vida impedida, à vida sem ti e sem ela, sem ele e o outro. sem mim.

de repente o assunto é assunto e tu mergulhas bem fundo, fugindo do amor. cá estarei no fim dessa espera até ao tempo do que era e não volta a ser.
[pluto].

sexta-feira, novembro 04, 2005

de nenhum fruto queiras só metade.*


não te percas na epiderme de ninguém.
procura, e encontrarás o que está para além de um quarto de luzes mortas.
não te esqueças de ti nesse quarto. esse quarto é efémero, é uma divisão de felicidade momentânea.
não tardes o encontro com as palavras que suplantam o silêncio.
não sejas meio fruto e não queiras ter meias emoções.
não sejas porto de passagem.
não vivas de beijos com deadline, alegria limitada e choro contido.
espera pelo todo, pelo completo, pelo inteiro.


*[torga].

quarta-feira, outubro 26, 2005

as if they knew.

o meu horóscopo diz para não sair de casa sem um mapa.
cuidado. começo a acreditar na astrologia.

segunda-feira, outubro 24, 2005

pe[r]dido.


os clientes dizem-lhe que os pedidos demoram muito a ser atendidos.
o que eles não sabem é que ela espera, ainda hoje, que o dela seja atendido.
[desenho por andré rocha]