quarta-feira, junho 22, 2005

mala de não-viagem.



espreitei para debaixo da cama e encontrei o monstro do Passado.
a mala de viagem (outrora pertencente à já falecida dona lina) que carrega os meus blocos de notas, as minhas imagens, uma flor de papel que alguém me terá oferecido, uma flor de pétalas mortas que niguém me ofereceu, fotografias já amareladas, cassetes que cantam a janis, os morphine, o jeff. esta mala é um verdadeiro berço da morte.
guardo-a longe do pó e junto da minha constante memória. aproximo-a da vida.

encontrei o meu tio.
ele é um passado desconhecido, mas mais conhecido que muitos presentes.
a lei foi quebrada - mais uma vez - e ele partiu antes de mim.

encontrei o meu tio.
e ele é igual a mim.


'um dia (...) compreenderás melhor o que será que leva os homens e as coisas a evoluirem tão fantasticamente.
e então saberás sentir toda a nostalgia inquietante que se desprende das coisas antigas'.
[ josé antónio de lucena beltrão poiares, 1959, excerto de uma carta para o meu pai].
quem diria que os estados de alma também podem ser congénitos?


7 comentários:

João Tiago disse...

martinha..
Não consigo comentar os teus posts..
sinto-me muito pequenino, do fundo.
E triste, também.

Mas por detrás de toda a tristeza, sinto uma grandeza, enorme mesmo..(sim, com pleonasmo e tudo)

J*

Anónimo disse...

Escreve bem o teu tio, tal como tu. Gosto do nome dele. Tem "pinta" :)

João Campos disse...

Acredita que queria aqui pôr um comentário, mas fiquei sem saber o que dizer...és má :P

Para emendar a mão, disse-me um passarinho que vocês vão ter exame estes dias, por isso...boa sorte!! É pouco, mas é o que se arranja.

Beijo

mj disse...

Mas que blog liindo!!!

Fiquei enternecida com o post do Lucky.

Parabéns.

Anónimo disse...

grande senhor o teu tio...

Paulo Aroso Campos disse...

sempre é genético, não é preciso provar cientificamente!
beijos, bargirl! ;)

Rafael Fraga disse...

São incertas as razões que nos levam a trilhar caminhos que se cruzam com outros caminhos, ainda mais incertos. Incertas são as razões que me convidaram a partilhar das tuas palavras.

De todas, a congenialidade dos sentimentos e dos sentires (que partilhamos por razões tão incertas quanto os genes o podem ser), faz-me pensar qual o verdadeiro significado das heranças que trazemos dentro de nós.

Infelizmente, só as ausências nos dão o espaço que permite amadurecer a dádiva da partilha, e compreender um pouco mais de nós. É tão difícil vivermos os outros vivendo com eles...

Decidi hoje iniciar a partilhade algumas das minhas, deserto que me sinto, tantas vezes, de palavras como as tuas.

Talvez os nossos trilhos se encontrem, um dia, no deserto mais perto que a distância trilhar.

Que incertas são as mais acertadas e belas coisas desta vida...!

RF.